Para além das discussões tradicionais
sobre a relação natureza/cultura, cresce atualmente o número de investigações
em várias áreas, como a filosofia e as ciências sociais, cognitivas e
biológicas, atentas à interseção de certos domínios do humano e dos demais entes
(seres animados e inanimados) e, por outro lado, à agência particular ou
compartilhada desses atores nos mecanismos explicativos das ciências. Abre-se,
assim, uma reflexão ampliada sobre as interfaces humano e não humano, com consequências
diversas para os fundamentos epistemológicos das áreas do saber mencionadas, em
especial a antropologia, a linguística, a filosofia e os estudos em cognição humana
e não humana.
Privilegiando estudos de caráter
multidisciplinar, o grupo de pesquisa está voltado para: a) a etnografia das
relações humano-não humano; b) as abordagens sistêmicas, simétricas, não
representacionistas e não reducionistas da linguagem e da cognição dos
organismos humanos e não humanos c) as consequencias epistemológicas e éticas da
observação, descrição e explicação do mundo vivo; d) o estudo sistêmico, comparado
e evolutivo dos seres vivos e de suas interrelações comunicativas, sociais e
ecológicas; e) a antropologia e a filosofia de ciências que investigam as
relações entre o humano e o não humano; e f) as relações humano-objetos, seja
no domínio da automação e das redes sociotécnicas ou no âmbito das trocas
sociais estabelecidas com “coisas” ou “objetos” – artefatos rituais, imagens,
canções, grafismos e nomes – em cosmologias distintas.
A partir da constatação de que o
olhar para os demais seres vivos e entidades não humanas emerge como uma
transformação sociocultural nas sociedades contemporâneas, especialmente na
comunidade científica, o grupo de pesquisa elege como um de seus eixos centrais
a relação humano-não humano e as variadas questões dela decorrentes, a exemplo das
novas práticas e sensibilidades do humano ao lidar com outros organismos, da experimentação
laboratorial, do manejo de seres cativos e da vida selvagem, dos direitos dos
organismos não humanos e da participação dos objetos e artefatos na composição do
social. Finalmente, tem-se por objetivo o estabelecimento de pontes
interdisciplinares com outros pesquisadores interessados na questão do vivo, e
em teorias nativas sobre a animalidade e materialidade, como físicos, veterinários,
agrônomos, biólogos, geógrafos e juristas.